domingo, 22 de janeiro de 2012

Polícia, prefeitura e estado montam força-tarefa para controlar feira de Caxias

POR GERALDO PERELO

Rio - Apontada como maior centro de comércio ilegal de animais silvestres a céu aberto do País, a feira livre de Duque de Caxias, no bairro 25 de Agosto, vai, finalmente, ganhar um posto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O objetivo é fechar o cerco aos traficantes, inclusive internacionais, que, aos domingos, negociam animais da fauna brasileira, muitos em risco de extinção.

A força-tarefa envolve outros órgãos ambientais, municipais e estaduais, como o Batalhão de Polícia Florestal (BPFMA), a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

Segundo o secretário de Meio Ambiente de Caxias, Samuel Maia, agentes, com binóculos e radiotransmissores, vão controlar a feira, do alto de uma cabine, para tentar identificar traficantes. E entrar em contato com agentes infiltrados na feira.

Maia explica que a decisão de criar a força-tarefa surgiu devido à constatação de que a feira livre de Caxias ganhou fama internacional. “Foi quando o prefeito Zito criou o programa Tolerância Zero para coibir a comercialização de animais”, explica.

Nos últimos dois anos, o Batalhão Florestal prendeu, no Estado do Rio, 1.210 pessoas por crime ambiental. No período foram apreendidos 9.145 animais, dos quais 5.808 em 2011.

A maioria das ações ocorreu nas feiras de Caxias, Alcântara, Neves, Honório Gurgel e Campo Grande. Havia desde coleiro a mico-leão dourado, além de tartarugas-d’água e araras.

O comandante do batalhão, tenente-coronel André Vidal, disse que a maioria dos animais é trazida de estados do Nordeste e chega às feiras estressada, debilitada e, em muitos casos, dopada e cega. Ele contou que pelo menos 50% não resistem aos maus-tratos e morrem antes de chegar ao Centro de Triagem de Animais Silvestres, em Seropédica.

Hábito incentiva criminosos


Para o superintendente do Ibama, Adilson Gil, a cultura da compra de animais silvestre por parte da população ainda é o grande entrave para o fim da ação dos traficantes.

Ele lembra que há pessoas que acham normal ter em casa um papagaio ou outra espécie qualquer. “Essa questão tem que ser combatida. Se alguém quer ter um animal, que seja um gato ou um cão; jamais um animal silvestre”.

Gil cita, como exemplo da ação dos traficantes, a apreensão, no domingo passado, de um filhote de carcará na feira de Duque de Caxias. “Temos que acabar com as quadrilhas. Para isso, quanto mais órgãos ambientais agindo, melhor”, diz o superintendente.



Cerco aos traficantes de animais começou em 2008

Foi a partir da feira de Duque de Caxias que a regional da Polícia Federal em Nova Iguaçu e o Ministério Público Federal desencadearam, em 2008, a Operação Oxossi. Ela foi responsável pela prisão preventiva de 103 suspeitos de tráfico de animais, incluindo estrangeiros.

Os federais descobriram que os bichos eram levados também para Portugal, Suécia, Alemanha e República Tcheca. A ação, comandada pelo delegado Alexandre Saraiva, e resultou, em agosto de 2011, na condenação,pela Justiça Federal, a dez anos de cadeia, do theco Tomas Novotny, pelos crimes de receptação e contrabando internacional de animais silvestres e formação de quadrilha.

A operação, que chegou a mobilizar 450 agentes em oito estados, além do Rio de Janeiro, prendeu também quatro policiais militares e empregados de empresas de ônibus que transportavam os animais em compartimentos de cargas dos veículos.

Saraiva lembrou que os acusados usavam formas cruéis de captura e transporte, além de confinar centenas de animais em pequenas caixas. E, quando percebiam que seriam alvos de fiscalização, os criminosos se livravam dos animais mutilando suas asas ou dando descarga.

Foram interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça que apontaram a feira de Duque de Caxias como um dos principais pontos de venda de animais silvestres do País. Segundo as investigações, os animais eram capturados no Parque Nacional da Bocaina, em Paraty, e nos estados de Pará, Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

Clube em Imbariê preserva os curiós.
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Idealizador da Casa do Curió, no distrito de Imbariê, em Duque de Caxias, onde cria 20 fêmeas e dez machos reprodutores, Alexandre Toscano da Silva, 41 anos, caminha em direção oposta à dos traficantes de animais silvestres.
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Autorizado pelo Ibama, desde 2003, ele mantém um criadouro, dotado de maternidade e berçário, em busca da preservação da mais alta linhagem. “Com a simples tarefa de tratar das gaiolas dos curiós da criação do meu pai, aprendi a ter responsabilidade”, conta.
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Ele frisa que seu desejo é despertar nas pessoas a consciência para a necessidade da preservação do curió. Segundo ele, o pássaro faz parte da cultura do país e sofre com a degradação de seu habitat natural..
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Criador precisa se cadastrar.
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Alexandre Toscano explica que o primeiro passo para ser criador legal é o Cadastro Técnico Federal (CTF), que dá direito ao certificado de passeriforme e às anilhas, espécie de certidão. Nelas, consta a data de nascimento, além dos nomes do animal, de seus pais e avós.
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O cadastro para criação amadora é obtido pela Internet, no portal do Ibama. Depois, o interessado deve procurar o órgão para homologação. “A partir daí, o criador deve procurar o pássaro, que precisa ter a procedência legal e receber a anilha com até sete dias de nascido”, explica Toscano, lembrando que carteirinhas de clubes e federações não servem para a fiscalização..


Fonte: "Jornal O Dia"
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