domingo, 15 de junho de 2008

Xerifes da Mata - Jornal O Fluminense



Um batalhão a serviço da defesa da natureza.



Larissa Lima


Um dia da caça e outro do caçador. O velho ditado popular define o objetivo das últimas operações dos agentes do Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente (BPFMA), que estão atentos à prática da caça ilegal de animais silvestre na Serra da Tiririca, entre os municípios de Niterói e Maricá. A equipe de O FLUMINENSE acompanhou com exclusividade uma das inúmeras ações que estão sendo deflagradas na área de preservação ambiental, que faz parte da Mata Atlântica.

No mês de maio, os policiais apreenderam 20 armas de fogo em todo o estado, sendo que cinco na Serra da Tiririca. Nas operações, os PMs encontraram duas espingardas de calibre 12 e três trabucos (calibre 22) – arma de fabricação caseira, porém de alta periculosidade. Segundo os agentes, o material era usado por caçadores, que, na sua maioria, vendem os animais ilegalmente para restaurantes de carnes exóticas.

O comandante da unidade, Ivanir Linhares, conta que os animais que são alvo da caça clandestina – sem autorização dos Órgãos Ambientais, em áreas legalmente protegidas – são os mamíferos de pequenos portes, como a cutia, a preá, a capivara e a paca.

A caça com o emprego de artefatos semelhantes aos encontrados nesta mata é crime com qualificações e agravantes conforme a Lei 9.605 de 1998.

Segundo o tenente Érico, que comandou a ação, os caçadores agem em grupo, e de acordo com as condições climáticas. Os armamentos são escolhidos conforme a espécie de animal que desejam caçar.

Ainda segundo Érico, o preço do quilo de carne desses animais varia entre R$30 e R$40. Os caçadores agem sempre à noite, principalmente no período de lua nova, devido à luminosidade, e entram na mata uma vez por semana.

"Eles lucram porque os animais nunca estão sozinhos, no mínimo, eles são pegos em casal", conta o oficial.

As aves naturais da Serra da Tiririca também atraem caçadores, que em sua maioria buscam por canários, tizius e trica-ferros. Esses animais são vendidos em feiras livres, em vários pontos do Estado, principalmente em São Gonçalo, com preços entre R$20 a R$ 50.

Nas exposições e transporte, vários animais são colocados na mesma gaiola, conhecida como "hotelzinho", sem comida ou água, o que provoca um nível de estresse que, muitas vezes, os leva à morte. Para facilitar o transporte, as penas das aves maiores, como papagaios e araras, são cortadas.

Segundo o oficial, o comércio de aves silvestres é muito comum, e mais de 700 aves são apreendidas por mês em feiras livres, durante operações realizadas em parceria com o disque-denúncia. Entre as aves mais apreendidas estão os canários e os sabiás.

Quem quiser ajudar os agentes, pode denunciar crimes ambientais através dos telefones: 2253-1177 e 3399-4832.

Onde a missão é a preservação



O Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente (BPFMA) integra o Comando das Unidades Operacionais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e tem como missão específica a execução do policiamento florestal, a proteção dos demais recursos naturais e a preservação do meio ambiente no território do Estado. A unidade também atua através de atividades de educação ambiental com palestras voltadas para alunos de diversas escolas públicas e privadas, bem como nas comunidades dos 92 municípios do Rio.

O BPFMA vem desempenhando as atividades de preservação ambiental junto com diversos órgãos do Estado: IBAMA, FEEMA, CECA, IEF, DPMA, SERLA, DRM, DNPM, MPE, MPF e Secretarias de Meio Ambiente dos municípios que compõe o Estado do Rio de Janeiro.

Armadilhas letais até para humanos




Os caçadores clandestinos utilizam muito o facão, pois, para caminhar pela mata, precisam destruir a vegetação. As armadilhas ficam camufladas, e a mais perigosa delas, que pode até matar uma pessoa, é o "trabuco".

"É artesanal e funciona com um sistema, acionado através de um gatilho, que pode disparar um cartucho de diversos calibres. Ela é utilizada para matar animais de médio porte", descreve Érico, que acrescenta que a arma pode causar ferimentos graves e provocar até mesmo a morte de uma pessoa.


Punições cabíveis



As práticas de ações degradantes contra o meio ambiente mais praticadas são a pesca predatória, desmatamento, queimadas e a caça ilegal de animais. O objetivo do BPFMA é orientar a população que vive ao redor da mata, para a conduta consciente.

Os crimes ambientais estão tipificados na Lei de Crimes Ambientais nº 9.605 de 1998, em seu Artigo 29. A pena varia entre seis meses e um ano de detenção, e multa, podendo ser aumentada pela metade, se o crime for praticado em período proibido a caça, e em unidade de conservação.

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