sábado, 17 de novembro de 2007

ONU: mudanças climáticas afetarão especialmente os países em desenvolvimento

Diogo Dantas.

Valência (Espanha) -O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse neste sábado que os países emergentes serão especialmente afetados pelas mudanças climáticas e que não há como solucionar o problema sem a participação desses países na luta contra o aquecimento global.

Ban anunciou junto aos membros do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (o IPCC, na sigla em inglês) o relatório síntese que reúne contribuições de 450 cientistas de mais de 130 países sobre as conseqüências das mudanças no clima do planeta.

O secretário afirmou durante a apresentação do documento que “reduzir as mudanças climáticas é o objetivo que define nossa época”, e pediu a colaboração dos países em desenvolvimento.

"Os países industrializados têm que seguir a frente da luta contra as mudanças climáticas. Mas ao mesmo tempo não podemos deixar passar por alto a realidade de que não pode haver soluções possíveis se os países em desenvolvimento não participarem desse esforço", disse Ban.

O relatório apresentado neste sábado possui 23 páginas e reúne as conclusões anunciadas durante o ano pelo IPCC. Entre elas o aumento da temperatura causado pelo agravamento do efeito estufa, a elevação do nível dos mares que pode gerar o deslocamento de populações e a extinção de espécies, elevação esta causada principalmente em função do derretimento de calotas de gelo polar.

Outras conseqüências seriam o aumento do número de doenças tidas como de clima seco em países do hemisfério norte, como a malária, a recorrência maior de fenômenos climáticos extremos, como tufões, furacões e tempestades tropicais.

No texto, mais uma vez o IPCC reforça a contribuição determinante e inequívoca do homem para as mudanças no clima em virtude de sua produção industrial baseada na queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo.

Solução

O secretário da ONU disse, no entanto, que há esperança e soluções possíveis para inverter o jogo. Segundo Ban, "com uma ação concentrada e sustentável agora poderemos evitar algumas das previsões mais catastróficas que apontam os cientistas". “Há meios reais e acessíveis para combater as mudanças climáticas”, completou.

Sendo assim, a ONU fez uma espécie de convocação para que na Conferência sobre as Mudanças Climáticas que acontece em Bali em dezembro haja "progressos reais" e os países avancem para fechar em 2009 um acordo que substitua o Protocolo de Kyoto. “Hoje os cientista de todo o mundo falaram em uma só voz. Espero que em Bali os governos dos países façam o mesmo”, pediu o secretário.

Segundo o acordo assinado em Kyoto, no Japão, os países industrializados deveriam reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em aproximadamente 5% abaixo dos níveis de 1990 até 2012. Hoje, 171 países mais a União Européia estão dentro do tratado. Os Estados Unidos, maior poluidor, ainda não ratificaram, assim como Canadá e Austrália. Atualmente o Protocolo não prevê qualquer meta obrigatória para países em desenvolvimento. Apenas a obrigação de calcular seus inventários e desenvolver políticas e medidas que reduzam suas emissões.

Ban Ki-moon disse que um grande acordo pós-Kyoto "deve incluir incentivos para ajudar países em desenvolvimento a caminhar na direção da mitigação e da adaptação".

Segundo ele, os países em desenvolvimentos devem ser ajudados em três frentes: com fundos para financiar a tecnologia de energias limpas; através de "correntes financeiras para adaptação"; e por uma maior cooperação em pesquisa e desenvolvimento científico, assim como a transferência de tecnologias limpas.

O secretário contou o que viu em sua recente viagem a América do Sul, que incluiu a floresta tropical brasileira. "Na Amazônia, vi como a floresta, o 'pulmão da terra' está sendo sufocada. O Brasil está fazendo avanços sérios no combate ao desmatamento e promovendo o gerenciamento sustentável da floresta. Mas o governo teme que o aquecimento global já esteja minando estes esforços", afirmou Ban.

"Se a previsão mais forte do grupo (IPCC) se tornar realidade, grande parte da selva amazônica se transformará em savana." Para que todo esse estrago não aconteça seria necessário um gasto anual de 1% do PIB global, segundo o IPCC.

Os impactos

O texto aprovado afirma que ‘11 dos últimos 12 anos (1995-2006) estão entre os 12 mais quentes nos registros instrumentais da superfície terrestre (desde 1850) e o ritmo atual de aquecimento -0,13 graus por década- é maior que o que o IPCC calculou em 2001”. A temperatura subiu mais no hemisfério norte, especialmente no Ártico "que esquentou a uma velocidadeo dobro do resto do planeta". Neste fim de ano o Ártico já bateu o recorde com a menor extensão de gelo já vista, 5,26 milhões de Km2.

O aumento do nível dos mares não é tão percebido, mas o calor e energia necessários para esquentar um oceano é enorme. Segundo o IPCC, ao esquentar, o mar aumenta de volume e seu nível sobe 3,1 milímetros por ano em média, segundo avaliações desde 1993.

O aumento médio na temperatura pode parecer menor, mas o IPCC afirma que a temperatura média da última metade do século XX foi provavelmente a maior em um período de 50 anos seguidos desde o descobrimento da América, há 500 anos, "e provavelmente a mais alta nos últimos 1.300 anos".

O texto apresentado começa resumindo toda a idéia do documento píntese: "O aquecimento do clima é inequívoco, e já está evidente pelo aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, a ampla fusão do gelo à neve e o aumento global do nível do mar".

O informe será relevante porque durante anos servirá como orientação a políticos, empresários e sociedade civil.Além de servir como diretriz e pauta a ser discutida na reunido na Indonésia no próximo mês para pensar em um tratado que substitua Kioto no combate ao aquecimento do planeta.


Fonte: Jornal O Dia

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